Recentemente, muitos twitteiros e facebookeiros que vivem de plantão
quase transformaram os pensamentos do jornalista, escritor e dramaturgo
gaúcho Caio Fernando Abreu em cultura de massa (assim como a obra de
Clarice Lispector). Para os que adoram polêmica, esclareço: não estou
colocando todos que postaram/postam criações de C. F. A. no mesmo "saco".
Claro que muitos dos internautas que publicam citações do escritor
conhecem o trabalho dele. Mas vamos combinar que outros tantos usuários
das redes sociais que abordam Caio F. A. sequer leram um conto desse
artista, que dirá um livro.
Para esse último grupo, recomendo a
leitura de Morangos Mofados. Trata-se de uma coletânea de contos de C. F. A.
excelente, e perturbadora. Uma obra-prima em termos de escrita,
descrição, poesia. Mas a mensagem é dura, azeda, amarga. É que a
narrativa é repleta de pessimismo (pelo menos na minha visão, na de
outros pode ser apenas realismo mesmo...).

A obra é dividida em O
Mofo, Os Morangos e Morangos Mofados (último conto). A primeira parte é
impregnada de apatia, desânimo, frustração por parte das personagens. Já Os Morangos - ah! essas frutas suculentas, lindas e
saborosas - parecem ter sido colhidos bem antes do tempo, porque são
azedos e com aquela aparência esverdeada/"quaserrosa". Sim, os contos
transmitem essa sensação. Só lendo para saber por quê. Mas, alto lá,
isso não significa que as histórias sejam ruins. Muito menos que os
textos não são bons. Apenas perturbam, causam uma certa reação em quem os está
lendo. Mas, no fim do livro, uma carta de Caio Fernando Abreu a um
amigo jornalista nos mostra que, na verdade, o autor não é pessimista:
muito pelo contrário. O realismo exacerbado faz parte da estética de
Morangos Mofados. Também, pudera, os contos refletem a época vivida por C. F. A., com ditadura, repressão, preconceitos desvelados e outras mazelas.
Enfim, leia a obra e faça a sua análise...